O sofrimento raramente é algo inexplicável.
A discussão sobre o racismo aquece as mentes e, infelizmente, os acontecimentos dos últimos dias não ajudaram a compensar e resolver as diferenças.
O fecho do lar de Santa Maria em Marvila obriga à transferência de 140 idosos e 20 deficientes profundos e coloca 79 funcionários no risco de perder o emprego se não forem encaminhados para outras instituições.
Ficamos chocados como uma mãe solteira pode abandonar o seu filho recém-nascido.
Ficamos da mesma maneira, escandalizados quando um polícia, um agente de segurança, mata um homem numa detenção violenta.
Somos sensibilizados quando um grupo de refugiados desembarca na costa algarvia.
„Sem justiça, não pode haver paz.“
Martin Luther King jr.
Frase citada nas manifestações contra o racismo após o afro-americano George Perry Floyd, de 46 anos, foi morto numa detenção violenta.
Uma análise do sofrimento humano revela que a sociedade está profundamente envolvida em injustiça estrutural, como está escrito em Isaías no capítulo 61. Esta injustiça resulta em grande devastação, mas é também uma oportunidade para a Igreja em marcar a diferença e abraçar a missão de Deus em Jesus. Uma responsabilidade tanto espiritual como social, contra a injustiça, a exclusão social, a descriminação, a violência, a pobreza e o racismo, sendo a resposta para as necessidades fundamentais da vida humana.
O capítulo 61 do livro de Isaías é dividido em duas partes principais. A primeira parte sublinha e expressa a intervenção social de Deus contra a injustiça, enquanto a segunda parte salienta os resultados e o fruto direto da interação de Deus. Damos uma olhada nos cinco primeiros versículos de Isaías 6.
1. “me ungiu para pregar boas-novas aos mansos”
2. “enviou-me a restaurar os contritos de coração”
3. “a proclamar liberdade aos cativos”
4. “a proclamar a abertura de prisões aos presos”
5. “a apregoar o ano aceitável do Senhor”
6. “a apregoar o dia da vingança do nosso Deus”
7. “a ordenar acerca dos tristes que se lhes dê ornamento por cinza”
8. “a ordenar acerca dos tristes que se lhes dê óleo de gozo por tristeza”
9. “a ordenar acerca dos tristes que se lhes dê vestes de louvor por espírito angustiado”[1]
É o próprio Deus que traz esperança e cura no sofrimento coletivo e na desigualdade social, existente no mundo, para sua glória.
E o próprio Jesus confirmou este propósito e esta força de vontade nas suas palavras em Mateus acerca dos “bem-aventurados.” (Mateus 5.1-12)
1. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus;”
2. “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados;”
3. “Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;”
4. “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;”
5. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;”
6. “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;”
7. “Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus;”
8. “Bem-aventurados os que sofrem perseguições por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus;”
9. “Bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disseram todo mal contra vós, por minha causa.”
De uma forma gostamos as promessas de Deus e nós gostamos a ação e o convite do próprio Jesus.
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.” (Mateus 11.28)
Esta intervenção não fica por aqui. Indo, além disso, sendo do suprimento das necessidades humanas e do acabamento do sofrimento, da injustiça e da desigualdade no mundo, traz esperança e uma nova expectativa.
1. Revelação do amor de Deus – Esperança
Deus, tomando a iniciativa, revela na sua ação, o seu amor e a sua paixão, que resulta na glória Dele. (Isaías 61.3) Assim Deus será conhecido como o Deus da bênção entre as nações.
A passagem descreve, além da compaixão para os quebrantados de coração, também o deseja de Deus de que o seu povo seja conhecido pala rica bênção sobre eles. (Isaías 61.6)
2. Revelação do povo de Deus – Expectativa
Em Isaías 61 e Mateus 11, além do alívio são colocadas uma garantia e uma promessa em termo de responsabilidade social sobre os que seguem a Jesus. Parece relevante, preciso algo que preenche o lugar vulnerável na alma e do espírito para que a paz permanece e o coração não se exalta outra vez. Jesus convida para estudar-lhe e aprender dele. (Mateus 11.29)
Ele não se conformou, não se acomodou e não descansou até ter acabado a sua missão. Assim como Jesus se submeteu ao mandato de Deus a igreja deve submeter-se também a chamada de Deus. Como o próprio Jesus, devemos ouvir os gritos dos necessitados e permitir que eles cheguem a Jesus para também ouvir “Que queres que te faças?”. (Lucas 18.41)
As palavras de Jesus revelam a mente do Senhor em relação ao sofrimento e moldam o meu entendimento e a minha reposta de quem cuida de mim nas minhas necessidades.
Portanto, há sempre um senso de impotência em mim, mas que não pode paralisar-me ou levar-me a pensar que nada pode ser feito. A missão e a visão de Deus vão sempre além da minha compreensão e das minhas expectativas, mas estão inteiramente ligadas as promessas Dele.
Ele sempre teve um prazer em usar homens e mulheres para multiplicar os esforços, aparentemente pequenos, dos seus servos em ministérios que trazem vida, esperança e mudanças permanentes através do amor de Deus derramado nos nossos corações. (Romanos 5.5)
Esperança significa que posso entender os problemas do mundo da forma que realmente são.
“De fato, a melhor maneira de conseguir justiça e bondade genuína, ou talvez a única, é conseguir que um grande número de pessoas em cada segmento da sociedade se tornem cristãos consagrados.”[2]
João 14.27. „Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. „
Jesus é a própria fonte de paz!
3. Conclusão
Esses frutos cresçam na terra como num jardim e desenvolvem dois fatores importantes do reino de Deus.
1. A justiça, que deve ser entendida também como justiça prática sem ser imposta, como, por exemplo, no caso de Zaqueu em Lucas 19 e de Paulo na ilha de Malta em Atos 28.
2. O louvor, que deve ser entendido como a adoração explícita de Deus, como no caso de Paulo em Éfeso em Atos 19, jovem com um espírito de adivinhação, e em Filipos em Atos 16 na prisão.
Quando pessoas mudam e começam a mostrar a caráter e o cuidado de Cristo, muitos outros na comunidade veem neles exemplos e encorajamentos para participar em serviços caridosos.
Quando missionários procuram fazer um trabalho de desenvolvimento coletivo, eles geralmente plantam novas igrejas ou renovam igrejas existentes, que servem como base para a mudança crucial de valores e da cosmovisão, necessários para a transformação permanente da sociedade.
O alvo é que pessoas e comunidades inteiras sejam transformadas, não somente de maneira passageira ou como resultado de engenharia social. É o próprio Cristo a fonte da verdadeira justiça e de qualquer transformação significativa e douradora na nossa sociedade.
A Ele toda a glória.
[1] Todas as referências bíblicas são da tradução de João Ferreira de Almeida, revista e corrigida edição de 1995
[2] Donald A. McGavran, “Uma igreja para cada povo. Perspectivas pg. 643